Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

Fernando Pessoa



8 de jun. de 2010

Jia Lu



Adeus


Vai-te, que os meus abraços te magoaram,
E o meu amor não beija!, arde e devora.
Foram-se as flores do meu jardim. Ficaram
Raízes enterradas, braços de fora...

Vai-te! O luar é para os outros; e os afagos
São para os outros..., os que ensaiam serenatas.
Já a Lua que nos lagos bóia pérolas e pratas
Não nasce para mim, que estou sem lagos.

Quando me nasce, é como um reluzir da treva,
Um riso da escuridão
Que na minha alma ecoa, e que ma leva
Por lonjuras de frio e solidão...

Vai-te, como vão todos; e contentes, de libertos
Do peso de eu lhes não queres trautear mentiras.
Como seria tu, flébil flor de olhos de safiras,
Que me acompanharias nos desertos?

Vai-te! não me supliques que te minta!
Beijo-te os pés pelo que me oferecias.
Mas teu amor, e tu, e eu, e quanto eu sinta,
Que somos nós mais do que fantasias?

Sim, amor meu: em mim, teu amor era doce.
Premir na minha mão a concha nácar do teu seio
Era-me um bem suave enleio...
Era... - se o fosse.

Vai-te! que eu fui chamado a conquistar
Os mundos que há nos fundos do meu nada.
Talvez depois reaprenda a inocência de amar...
Talvez... mas ai!, depois de que alvorada?

Porque até Lá, é longe; e é tão incerto,
Tão frio, tão sublime, tão abstracto, tão medonho...
Como dar-te a sonhar este sonho dum sonho?

- Vai-te! a tua casa é perto.


José Régio