Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

Fernando Pessoa



21 de mar. de 2010

Richard Young



A DONZELA DE ZEUS


Caço um rugido de sol
Odisseu sedento e lasso
alço-me a um mar de ninfas
escarpado
nos ventos de cílios
céleres

Das ondas vejo-a nascida
do botão do olho mais dócil
onde um vitral fundeado
recolhe as velas da nave.

Tomo-lhe a mão
de cambraia

a vestidura de
incógnitas

Desço
suavemente ao dorso
com as mãos cheias de lavas
devolvidas ao vulcão
num jogo de fogo e espelho

Só na brasa dos mamilos
encontro a concha das mãos
suor sereno
arrepio
um mar salgado na boca

Ó Ítaca distante!

A língua se evola lânguida
estilingue em espiral
pedra elástica na praia
tomando de assalto o lago

Por um momento sei-me prancha
e ela um trampolim de pétalas

Na fúria de Poseidon
pousa Penélope


Anibal Beça