Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

Fernando Pessoa



25 de mar. de 2010

John Enright




ÁRIA PIÙ SOAVE



As minhas mãos são pentagramas
acordando sons no teu corpo.
Ponta de dedos ímã o tato se vai
percutindo notas descobrindo poros
um toque de cheiro no silêncio úmido.

Nos teus cabelos teço a fina partitura
feita de duas claves:
A mão direita
sola um sol agudíssimo
na tua verbena escondida;
a esquerda se faz em fá
o grave fado
o gesto do teu tesão
fala no meu pulsar.

(Um sopro morno fala baixo
no bafo abafado em tua boca)

O suor dos nossos corpos
enquanto garoa no lençol —
lava por um instante
o tempo de um ritmo sem metrônomo
um cheiro concreto de amêndoas.



Anibal Beça