Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

Fernando Pessoa



16 de fev. de 2010

Bogdan Prystrom

 


Volúpia do Vento


Na plena solidão de um amplo descampado,
penso em ti e que tu pensas em mim suponho;
tenho toda a feição de um arbusto isolado,
abstrato o olhar, entregue à delícia de um sonho

O Vento, sob o céu de brumas carregado,
passa, ora lagoroso, ora forte, medonho!
E tanto penso em ti, ó meu ausente amado!
que te sinto no Vento e a ele, feliz me exponho

Com carícias brutais e com carícias mansas,
cuido que tu me vens, julgo-me toda tua...
-Sou árvore a oscilar, meus cabelos são franças...

E não podes saber do meu gozo violento,
quando me fico, assim, neste ermo, toda nua,
completamente exposta à Volúpia do Vento!


Gilka Machado