Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

Fernando Pessoa



15 de ago. de 2011

Fidel Garcia



Soneto


A orgia mata a mocidade, quando
Rugem na carne do delírio as feras,
E o moço morre como está sonhando
Nas suas vinte e cinco primaveras.

Em cima -- o oiro sem mancha das esferas,
Em baixo oiro manchado de execrando
Festim de sibaritas, de heteras
Lubricamente se despedaçando!

Em cima, a rede do estelário imáculo
Suspensa no alto como um tabernáculo
-- A orgia, em baixo, e no delírio doudo

Como arvoredos juvenis tombados
Os moços mortos, os brasões manchados,
E um turbilhão de púrpuras no lodo!


  Augusto dos Anjos