Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

Fernando Pessoa



21 de abr. de 2010

Hamish Blakely



O Fim


Eu sou Eu, velho Pai Olho de Peixe que procriou o oceano,
o verme no meu próprio ouvido, a serpente enrolada na árvore

Sento-me na mente do carvalho e me oculto na rosa,
sei se alguém desperta, ninguém a não ser minha morte

Vinde a mim corpos, vinde a mim profecias,
vinde a mim agouros, vinde espíritos e visões

Eu recebo tudo, morro de câncer, entro no caixão para sempre,
fecho meu olho, desapareço

Caio sobre mim mesmo na neve de inverno,
rolo numa grande roda pela chuva,
observo a convulsão dos que fodem

Carros guincham, fúrias gemem sua música de fagote,
memória apagando-se no cérebro, homens imitando cães

Gozo no ventre de uma mulher,
a juventude estendendo seus seios e coxas para o sexo,
o caralho pulando para dentro

Derramando sua semente nos lábios de Yin,
feras dançam no Sião, cantam ópera em Moscou

Os garotos excitados ao crepúsculo nas varandas,
chego a Nova York, toco meu jazz num Clavicêmbalo de Chicago

Amor que me engendrou retorno à minha Origem sem nada perder,
flutuo sobre o vomitório

Empolgado por minha imortalidade,
empolgado por essa infinitude na qual aposto e a qual enterro

Vem Poeta, cala-te, come minha palavra e prova minha boca no teu ouvido.


Allen Ginsberg