Que gozo sentir-me em plena liberdade
longe do jugo atroz dos homens e da ronda
da velha Sociedade.
-a messalina hedionda
que, da vida no eterno carnaval,
se exibe fantasiada de vestal!
[…]
Esta alma que carrego amarrada, tolhida
num corpo exausto e abjeto,
há tanto acostumado a pertencer à vida
como um traste qualquer, como um simples objeto,
sem gozo, sem conforto,
indiferente como um corpo morto,
[…]
Quando longe de ti, solitária, medito
neste afeto pagão que envergonhada oculto.
vêm-me às narinas, logo, o perfume esquisito
que teu corpo desprende e há no teu próprio vulto.
A febril confissão deste afeto infinito
há muito que, medrosa, em meus lábios sepulto,
pois teu lascivo olhar, em mim pregado, fito,
à minha castidade é como que um insulto.
Gilka Machado

